programação /exposições

Black Hole _ Rudolfo Quintas

Inauguração 5 de Abril 15h | até 3 de Maio

Black Hole é uma instalação audiovisual imersiva ativada pelo movimento corporal. Concebida como um espaço de fronteira que une o tempo linear e o não-linear, bem como a experiência física e o intangível, cria um ambiente híbrido visualmente inspirado por imagética cósmica. Baseada numa pesquisa fenomenológica que o artista realizou em co-criação com pessoas cegas, a instalação explora como o som pode construir uma nova imagem mental do corpo – uma imagem que transcende o género, a idade e as barreiras, definindo-se e fortalecendo-se através da linguagem do movimento.

Experiência:
Ao entrar na instalação, os visitantes são recebidos por uma composição audiovisual generativa que se repete continuamente, evocando uma sensação linear de espaço-tempo. A obra oferece um ambiente contemplativo, onde inumeráveis partículas de luz traçam movimentos gravitacionais em torno de um vazio circular e negro central. À medida que os participantes avançam mais profundamente neste “buraco negro”, perdem gradualmente a sua referência visual fixa, transformando o encontro num diálogo participativo. Elementos visuais minimalistas, inspirados no celestial, e sons cuidadosamente refinados são animados pelo movimento humano, criando um espaço de liberdade e exploração que convida à redescoberta e à autoconsciência. Esta experiência imersiva envolve os sentidos, expandindo a perceção física do corpo e aprofundando estados alterados de consciência.

Nesta obra, Quintas explora o que desiga por “Incorporação Cósmica” – a ideia de que a expressão corporal pode ser traduzida em som através da integração de imagética cósmica. Aqui, os sons são compostos e organizados através de um diálogo intuitivo e emocional entre o movimento e as emoções evocadas pela escuta ativa, resultando numa música orgânica, contínua e visceral que funciona como um retrato emocional de cada participante.

Bio

Rudolfo Quintas é um artista visual português que analisa criticamente as crescentes intersecções entre a cultura e a tecnologia. As suas investigações artísticas abordam o impacto da tecnologia nas esferas social, política e psicológica, propondo obras de arte enquanto interfaces que escrutinam e exploram esta complexa interação.

Num diálogo contínuo entre o físico e o digital, Quintas tem investigado extensivamente o corpo e o comportamento enquanto interfaces, o impacto da sobrecarga de informação e comunicação na saúde mental, e as implicações dos sistemas autónomos de poder e controlo na democracia. Estas investigações artísticas levaram-no a formular metodologias de processo criativo centradas no ser humano e de cariz transdisciplinar, tais como “Augmented Body”, “Sensitive-contexts”, “Blind Sounds”, “Post Inclusion”, “Eco-Acoustic Embodiments” e “Sciensible”. Estes sistemas híbridos fundem as expressões humanas com o código, criando um meio onde a arte, a ciência e a filosofia se interseccionam para propor relações mais inclusivas, participativas e diversas com a inteligência artificial e a tecnologia. O seu compromisso com a exploração destes conceitos levou-o também a falar em instituições académicas e científicas de prestígio, incluindo a Faculdade de Belas-Artes do Porto, a Fundação Champalimaud, a Universidade de Harvard em Boston ou a organização New Interfaces For Musical Expression.

Através de uma gama dinâmica de suportes – desde pinturas de dados computacionais em direto e instalações imersivas a performances, bem como desenhos, pinturas e esculturas imutáveis – Quintas recebeu inúmeras distinções. Entre as mais notáveis encontram-se o Prémio Inter.faces, pela obra “Swap” (2005) – uma peça de dança visualmente aumentada; o Prémio de Distinção Transmediale, em Berlim, por “Burning The Sound” (2009), onde Quintas atua com isqueiros e fósforos para amplificar e controlar o som digital; o Prémio de Nomeação Sonae, por “Keystones” (2019) – uma instalação de linguagem gerada por IA – e, recentemente, em 2024, ganhou o Prémio Norberto Fernandes, pela Fundação Altice, que reconhece as contribuições portuguesas significativas no campo da Arte e da Tecnologia, com “Sentiment Data Paintings”.

Exposto internacionalmente em locais como o Museu Kiasma, na Finlândia, a Fundació “La Caixa” e a Casa Encendida, em Espanha, o CTM Transmediale, em Berlim, ou o Santralistanbul, em Istambul, Quintas também expôs amplamente no seu país de origem. As suas exposições em Portugal incluem a ARCO Art Fair, o Museu Nacional de Arte Contemporânea, a Foco Gallery, o festival Index of Art and Technology, o Sónar, o Convento de São Francisco e as Carpintarias de São Lázaro, entre outros. A sua obra é publicada em edições como “Younger Than Jesus: Artist Directory”, co-editada pelo New Museum de Nova Iorque e pela Phaidon Press, ou o Leonardo, pela MIT Press.

https://www.rudolfoquintas.com

Programa paralelo

6 de Abril – Workshop Blind Sounds

Apoios

ANA VIEIRA: CADERNOS DE MONTAGEM

Inauguração 5 de Abril 15h | até 3 de Maio


O que acontece à obra de um artista após a sua morte?

Como assegurar a preservação e a apresentação de instalações deixadas inacabadas ou sem instruções de montagem?

Será que a reinstalação deste tipo de obras resulta da interpretação e memória de pessoas e agentes artísticos que conviveram ou trabalharam com a artista?

Ana Vieira (1940–2016) é uma das artistas mais influentes e uma figura incontornável da arte portuguesa do século XX, pioneira nas práticas artísticas mais diversificadas e experimentais. Ao longo de quatro décadas, a artista produziu um corpo de trabalho original, marcado pela criação de espaços arquitetónicos, pela desmaterialização da pintura, e pela conceção de instalações e construções cénicas (ambientes), onde o tema da casa prevalece, destacando-se a dicotomia entre interior e exterior, presença e ausência, ver e não ver.

Desde 2016, ano da sua morte, o espólio desta artista tem sido minuciosamente examinado, avaliado e estudado. Diversos documentos de arquivo foram consultados: desenhos, esboços, cartas, anotações, ficheiros áudio, vídeos e fotografias. Além disso, foram analisadas as problemáticas subjacentes à conservação do trabalho de Ana Vieira, com o objetivo de evitar o desaparecimento de algumas das suas obras.

A investigação levou-nos a considerar (no seu significado em latim, a junção de sidus, astro, com o prefixo con), a ter uma visão global da sua prática artística, identificando repetições ou padrões reconhecíveis e adotando uma abordagem interrogativa destinada a compreender o presente e o futuro da obra de Ana Vieira. Deste processo, extraímos os elementos necessários para dar início a uma análise etiológica deste projeto, que se estende para além de uma simples exposição.

Este projeto expositivo tem como propósito estudar, documentar e apresentar um conjunto de obras, objetos e instalações, juntamente com os respetivos desenhos e anotações da artista, tendo como objetivo a criação de cadernos de montagem que assegurem a preservação e a apresentação do legado de Ana Vieira.

Tendo em conta a complexidade do conjunto de obras selecionadas, nomeadamente instalações que exigem montagem, sublinha-se que o momento expositivo é um processo em aberto, que envolve uma tomada de decisões e reflexão contínuas.

A documentação produzida antes, durante e após as montagens dará origem a uma publicação destinada a museus, investigadores, universidades, escolas de arte, artistas e todos os interessados não apenas em conhecer as obras desta artista, mas também em refletir sobre os desafios que esta coleção e outras semelhantes apresentam.

O projeto expositivo e editorial é da autoria da curadora Antonia Gaeta, da arquiteta Astrid Suzano e da conservadora e investigadora Sofia Gomes.


Ana Vieira: Cadernos de Montagem é um projeto promovido e organizado pelo Centro de Arte Oliva, com a colaboração do Banco de Arte Contemporânea (BAC) e dos herdeiros do espólio da artista, seus filhos Miguel e Paula Nery. Realizado com o apoio da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea (RPAC), em parceria com o gnration (Braga), o CAAA Centro para os Assuntos da Arte e Arquitetura (Guimarães) e o Museu de Arte Contemporânea de Elvas (MACE)—a exposição desenvolve-se em cada um dos locais, entre outubro de 2024 e junho de 2025.