Ofélia Hoje, de Angelina Nogueira

postInauguração 20 Junho, 16h / Até 9 Agosto

Curadora: Laurem Crossetti

Um salgueiro reflete na ribeira cristalina sua copa acinzentada.
Para aí foi Ofélia sobraçando grinaldas esquisitas de rainúnculos, margaridas,
urtigas e de flores de púrpura, alongadas,
a que os nossos campônios chamam nome bem grosseiro,
e as nossas jovens “dedos de defunto”.
Ao tentar pendurar suas coroas nos galhos inclinados,
um dos ramos invejosos quebrou,
lançando na água chorosa seus troféus de erva e a ela própria.
Seus vestidos se abriram,
sustentando-a por algum tempo, qual a uma sereia,
enquanto ela cantava antigos trechos,
sem revelar consciência da desgraça,
como criatura ali nascida e feita para aquele elemento.
Muito tempo, porém, não demorou,
sem que os vestidos se tornassem pesados de tanta água
e que de seus cantares arrancassem a infeliz
para a morte lamacenta.

Afogou-se… Afogou-se.


(Hamlet. Ato IV, Cena VII.)

A exposição Ofélia Hoje, da artista Angelina Nogueira, ocupa a Galeria #4 do CAAA com uma instalação site-specific, composta por vídeo, escultura e gravuras. Como o próprio título enuncia, a obra propõe uma releitura da personagem shakespeariana, apresentando peças aparentemente díspares mas que, quando associadas, nos falam sobre as possíveis Ofélias dos nossos dias e revelam a poética da ciclicidade da vida.

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