Ficcionar o Real: O Quotidiano Mágico
Ficcionar o real – o quotidiano mágico
Exposição Finalistas LAV
Inauguração 22 de Junho 18h | até 30 de Julho
Espero que vivas em tempos interessantes é uma expressão popular derivada de uma maldição tradicional chinesa. Embora pareça uma benção, a expressão traz consigo um quê de ironia. Na realidade, a vida é melhor em tempos “desinteressantes”, de paz e tranquilidade do que em tempos “interessantes”, que geralmente são tempos de incerteza, para não dizer de angústia.
Que tempos são estes que vivemos? São tempos em que o real pode ser ficcionado e o quotidiano se tornar um lugar mágico.
Esta magia é aparentada da magia do “realismo mágico, um modo narrativo usado principalmente na literatura sul-americana que permite à escritora desestabilizar suposições, definições que sustentam uma suposta realidade, pondo a nú contradições e construções socioculturais. No realismo mágico, “magia” refere-se ao mistério da vida, mas também a qualquer ocorrência e particularmente a qualquer coisa espiritual ou inexplicável pela ciência racional. A variedade de ocorrências mágicas inclui fantasmas, desaparecimentos, milagres, talentos extraordinários e atmosferas estranhas.
Trazendo a magia para o quotidiano, ficciona-se o real. Mas o que é a ficção?
Ranciére distingue ficção e falsidade. O lugar da ficção esteve sempre relacionado à poesia, à narrativa literária e ao seu “descompromisso” com a realidade. Em oposição à ficção estava a história, o lugar da verdade, dos fatos, “concebida como sucessão empírica dos acontecimentos”. “A poesia não tem contas a prestar quanto à ‘verdade’ daquilo que diz, porque, em seu princípio, não é feita de imagens ou enunciados, mas de ficções, isto é, de coordenação entre atos.” Rancière procura revogar a linha divisória entre duas “histórias – “a dos historiadores e a dos poetas”. Para isso, propõe que a ficcionalidade seja uma nova maneira de contar histórias, que é, antes de mais nada, “uma maneira de dar sentido ao universo ‘empírico’ das ações obscuras e dos objetos banais.” Qualquer situação ou pessoa pode ser um agente histórico, retirando dos grandes feitos e dos grandes personagens seu poder exclusivo de contar os fatos.
Nesta exposição, Albjon Lushi, Ana Leandro, André de Abreu, Diana Costa, Eleonor Cadete, Helena Figueiredo, Hugo Sousa, Inês Varandas, Joana de Carvalho, Liliana Martins de Miranda, MANIA, Mónica Lucas, Rita Peixoto, Sofia Morim, Tamy Harada e Vera Vieira, apresentam modos de olhar e viver os nossos tempos interessantes ficcionando o real e trazendo magia para o quotidiano.